Depois de tentar Herbalife, Vigilantes do Peso, Dieta das Proteínas, Dieta do Leite, Dieta da Sopa, Endócrinos, Remédios para emagrecer, academia e nutricionista, resolvi detalhar aqui minha guerra particular contra a balança já declarada há mais de 15 anos. Tenho 27 agora e em todo esse tempo já emagreci e engordei uns 50 kg. Resolvi seguir a dieta dos pontos dessa vez por ser a menos restritiva para mim e abraçar a academia com um plano anual. Bem-vindos ao campo de batalha!

Minha História


               Bom, gente, contar  a minha história com o peso talvez seja a parte mais dolorosa dessa mudança. Dolorosa porque relembrar é fazer doer de novo. Jamais pensei que um dia confessaria tudo isso a alguém, pois me sentia humilhada porém acredito que pôr para fora é uma maneira de tentar matar os fantasmas.
                Então não vou ser generosa com ninguém aqui, como não foram comigo. Serei apenas verdadeira, sem eufemismos, afinal, não me lembro da minha família me chamar de fofinha, apenas de gorda, rolha de poço, baleia, boto, e mais algumas delicadezas que escutei durante anos a fio.
                 Se algum dia retornar à casa da minha mãe, prometo trazer fotos da minha infância para vocês verem que eu não era gorda, era uma criança normal até os 11 anos, com um ou dois pneuzinhos, tipo 5 kg a  mais que outras crianças da minha idade. Mesmo assim,  já era chamada de gorda pelos meus pais.
                   Bom, vamos começar pelo começo: meu pai se casou com minha mãe pela beleza da mesma. Nos padrões dos anos 80, ela realmente era muito bonita, inclusive se gaba até hoje de durante toda a juventude ter pesado 53 kg para 1,68m. Portanto sempre valorizaram exacerbadamente a beleza segundo esses padrões.  
                    E por que digo que se casaram porque ela era bonita e ele fútil? Simples, porque até a última vez que vi meu pai, percebi esses padrões ridículos entranhados nele. Estávamos na praia e ele comentava o corpo da mulherada chamando qualquer mulher mais cheinha de baleia, botijão,  indiscriminadamente. Horrendo!
                   Minha mãe, bem, minha mãe só era bonita, o tempo passou, a beleza acabou e nada restou. Não se destacou na profissão, nem mesmo tem uma profissão definida, não estudou, afinal, quem precisa estudar quando é magra? [sim, era isso que ela pensava] , não foi uma boa mãe e também não manteve o casamento. Até porque, acredito que seja necessário mais que amor para manter uma união.
                     Bem, e eu cresci com a pressão de ter que ser magra, esquálida, seca. Lembro de ter 8, 9 anos e meu pai me levar a uma loja e dizer que se eu emagrecesse, ele me compraria roupas daquela marca, senão, continuaria usando roupas de loja de departamento. Eminha mãe continuou essa tradição durante todo o tempo em que fui sustentada por eles, como eu era “a gorda” não merecia roupas bonitas, sapatos ou cuidado. Eu não ganhava presentes, só a minha irmã pois ela era magra. Era feita uma distinção clara entre nós, todos percebiam. E até hoje acreditam que essa condição era um incentivo para eu emagrecer. Dá para perceber que funcionou bastante, né?!
                      Acredito que se não fosse tanta pressão, eu nunca teria sido magra porque não é o meu biótipo, eu tenho estrutura. Contudo,  teria sido mais feliz durante a adolescência, quando meu peso disparou[de 65 para 77kg] e nunca tive apoio, pelo contrário, era chamada de gorda, feia pela minha família.                                                                 Lembro que quando eu tinha 20 anos, minha mãe me disse como se tudo estivesse perdido que ela e meu pai “antigamente” sonhavam que um dia eu me casaria e ele entraria comigo na igreja. Como se o fato de ser gordinha me faria ficar sozinha pra sempre. Eu pesava 77 kg na época, aliás, esse foi meu peso durante toda a adolescência.
               Não, eu não tinha namorados mesmo na época, eu só não percebia que não atraía ninguém simplesmente porque não me amava. Porque tinham me feito acreditar que eu não merecia amor, que eu nunca mereceria o melhor por não estar no padrão. Depois que eu saí de casa, com 21 anos, mudei de estado, descobri que eu sempre fui bonita sim, usava manequim 42/44. e isso não era crime. Só que ninguém até então tinha me ensinado a me gostar, me arrumar, me maquiar...
             Bem, nesse meio tempo, lembro que minha mãe nunca me levou a um médico, um nutricionista, alguém que me ajudasse de verdade a perder peso, já que me abominava tanto como gorda. Quando eu tinha 13 anos, ela chegou em casa com um remédio para eu emagrecer, uma fórmula manipulada. Emagreci um pouco, o que não sabia é que foi minha primeira anfetamina. Foi então que meu peso disparou, pouco depois do efeito milagroso do remédio.
              Algumas vezes ela chegava em casa com algum remédio natural que alguma conhecida tinha lhe dito que era bom para emagrecer... santa ignorância! Não dava certo, lógico, porque a comida era o refúgio para o terror que eu vivia de não me sentir aceita ou amada e comparada o tempo todo com as outras meninas. Na escola, eu também ouvia com os comentários maldosos, mas nunca me importaram, o que me doía era o que eu ouvia dentro de casa, onde deveria ter refúgio, apoio.
            Há pouco, falei disso para a minha mãe e ela disse que fazia porque queria que eu “me cuidasse” mais e emagrecesse, ela ainda não admitia o erro. Foi a pior desculpa do mundo para tanta maldade. Como eu iria me cuidar se era essa violência psicológica que me dava motivos para comer?
              Nisso, foi herbalife, vigilantes do peso [deu certo, mas na primeira semana que engordei uns gramas minha mãe me tirou do programa...santa ignorância!], dieta da sopa, da proteína, endocrinologista [fui por conta própria, quando tinha uns 16 anos] . Lembro bem dessa consulta com a Dra. Adriane Coelho, uma incapaz! Levei os exames de rotina, ela olhou, notou que eu não tinha nehuma disfunção então me deu uma pilha de papéis, era uma dieta prescrita com um xerox tão mas tão apagado que mal dava para ler, nem me explicou como fazer, mais um daqueles casos em que o gordo é ignorado por acharem que lhe falta vontade ou vergonha na cara. Se ela ainda clinica, deve estar morrendo de fome!
         Bem,  anos depois, conheci uma psicanalista ótima que me receitava  femproporex. Digo ótima, porque mesmo emagrecendo errado, emagreci, fiquei com 64 kg e malhei. Era o que ela podia fazer por mim antes que minha mãe suspendesse o tratamento. Fiquei muito bonita e foi isso que deu o empurrão para que eu saísse de casa e parasse de ser torturada. Pela primeira vez, aos 21 anos, me senti capaz.
              A magreza durou um ano e logo voltei aos 77 kg. Continuei tomando os remédios esporadicamente, contudo não faziam o mesmo efeito. Morando longe, [com os mesmos 77 kg que tinham me convencido anos antes que me faziam um monstro], me sentia mais feliz, me sentia bonita, e acabei namorando bastante sim, tive até um professor da facul apaixonado por mim, ao contrário do que meus pais tinham pregado a minha vida toda. Aliás, mesmo quando atingi o auge do meu peso, 86,6 kg, era muito paquerada.
               A última vez que tentei remédios, foi exatamente a um ano atrás e senti que já não adiantava mais. Tive coragem para me pesar e percebi que tinha batido 85kg. Estava cheia de vasinhos nos pés por causa do sobrepeso e temi que invadissem meu xodó: minhas pernas longas e roliças. Resolvi ir para a academia, fazer exercícios e usar a dieta dos pontos. Emagreci 4,5kg e diminuí medidas por causa da musculação. Entretanto veio o verão, sou baladeira de carteirinha, e lá vieram os abusos de álcool diários, os petiscos, os jantares fora e engordei de novo.
           Só resolvi emagrecer de verdade em junho, quando vi o resultado da RA numa conhecida no facebook, ela perda de 30 kg em um ano e meio. Fui atrás do método dela e descobri a blogosfera.
Antes de pôr meu blog no ar, me pesei. Marquei 86,6kg e isso me apavorou mais ainda pois não era uma questão estética! Eu sou muito bonita, ao contrário do que me fizeram acreditar no passado, me arrumo muito bem diariamente, tenho um guarda-roupa vasto, tudo que eu mereço. Aliás, tenho um truque: uso saltos altos pois cada cm de salto diminui visualmente 1 kg no seu peso. Arranco olhares e viradas de pescoço sempre na rua e tenho muitos pretendentes [10x mais que a minha irmã que é magra! kkk].
A questão agora é saúde: atingi a obesidade.  E para sair da obesidade e do sobrepeso, em seguida,  preciso de perseverança, apoio, força e constância. Preciso emagrecer a minha cabeça e nessa luta diária me convencer de que sou capaz de fazer qualquer coisa. Nessa caminhada, eu pretendo deixar muitos quilos e fantasmas para trás.
Sobre meu pai e minha mãe? Bom, não o vejo há alguns anos e dela, mantenho uma distância segura de 800km. Falamos por telefone mas não tenho planos de vê-la tão cedo. Aquilo que não depende de nós para mudar, devemos, simplesmente deixar para trás. Eu a deixei  e seus comentários maldosos. Quem sabe um dia ela entenda por si só o quanto me fez mal e sobretudo o quanto a beleza está dentro e não fora de alguém.

Gente, estou aqui chorando copiosamente depois desse desabafo, muito obrigada aos que tiveram paciência para ler. Eu me sinto um pouco mais leve e surpresa por ainda ter essas lembranças tão vivas. Espero que elas morram, a partir daqui e que, sobretudo, a obesidade seja melhor compreendida e melhor tratada pelos pais. Mas ainda mais importante: que os filhos sejam respeitados e ajudados dentro da sua limitação alimentar pelos familiares.